sexta-feira, novembro 03, 2006

chuva


hoje chove muito, muito,
e parece que estão lavando o mundo,
meu vizinho do lado contemplo a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor/
uma carta à mulher que vive com ele
e cozinha para ele e lava a roupa para ele e faz amor com ele
e parece sua sombra/
meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher/
entra em casa pela janela e não pela porta/
por uma porta se entra em muitos lugares/
no trabalho, no quartel, no cárcere,
em todos os edifícios do mundo/
mas não no mundo/
nem numa mulher/nem na alma/
quer dizer/nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim/
como hoje/que chove muito/
e me custa escrever a palavra amor/
porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa/
e somente a alma sabe onde os dois se encontram/
e quando/e como/
mas o que pode a alma explicar?/
por isso meu vizinho tem tormentas na boca/
palavras que naufragam/
palavras que não sabem que há sol porque nascem e
morrem na mesma noite que amou/
e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá/
como o silêncio que há entre duas rosas/
ou como eu/que escrevo palavras para voltar
ao meu vizinho que contempla a chuva/
à chuva/
ao meu coração desterrado/

Juan Gelman

quinta-feira, novembro 02, 2006

Aracaju

Vista da Colina do Santo Antônio, onde nasceu Aracaju

  • Sorvete de Mangaba
  • Amendoim cozido
  • Munguzá
  • Mangar dos outros
  • Pé-de-moleque que não é de amendoim
  • Gazear aula
  • Armengue
  • Picolé de russo!
  • Plataformas da Petrobrás que dá para ver da praia
  • Serra de Itabaiana
  • Caranguejo
  • Biscoito das freiras
  • Cabrunco
  • Caruru
  • É nehuma
  • Eitcha Pentcha
  • Rua da Frente que não fica na frente da cidade
  • Centro que fica no leste
  • Avenida Beir Mar que na verdade beira o rio
  • Avenida oceânica que não chega perto do oceano
  • Capital nordestina que não nasceu voltada para o mar
  • Todo mundo te conhece, mesmo sem te conhecer (tá, isso pode ser ruim...)
  • Que saudades da Orla e da brisa do mar