quarta-feira, abril 22, 2009

E agora José?

A esquerda que sobrou, no poder, esqueceu de sonhar. Os heterodoxos e desenvolvimentistas propõem Keynes, os ortodoxos autênticos fingem concordar. Há um consenso aparente, animado pelo pânico em escala global.

[...]Quem estudou física sabe que, se todos os corpos do universo se contraem ou expandem à mesma taxa, temos a sensação de que está tudo do mesmo tamanho. Dois trens que andam lado a lado numa extensão qualquer passam a impressão, para os passageiros, de que nenhum dos dois está em movimento. De fato, a crise nos eua tornou-se global. Isso significa que as contrações econômicas e desvalorizações de ativos ocorrem mais ou menos à mesma velocidade em toda parte. O resultado, portanto, é a sensação de que nada muda, continuam todos na mesma posição. Quando as autoridades falam em coordenação, procuram acima de tudo orquestrar uma continuidade dessa hipótese já sem validade. Nela, é como se as posições relativas não se alterassem e os donos dos assentos se encontrassem todos aptos a injetar liquidez, consolidar ou absorver empresas e alterar a regulamentação para restaurar, em algum ponto impreciso dessa trajetória incerta, quase como mágica, a confiança do mercado nos ícones de valor globais. 

Depois das dívidas no setor imobiliário e das ações (as principais bolsas de todo o mundo já perderam no conjunto cerca de 50% do valor, ou seja, o capitalismo encolheu à metade do que era no ano passado!), a ciranda se completa com a crise das moedas. Pois se a crise surgiu nos eua, ganhou força a percepção de que os impactos sobre os países emergentes pode ser pior ainda. Essa reversão do bordão do “descolamento dos brics”, repetido à náusea por economistas de bancos e seus repetidores de plantão nas colunas de economia dos grandes jornais, tem como resultado a desmontagem de posições em moedas de maior risco em sistemas de alto retorno, como o brasileiro. A reação natural, no Brasil, sempre foi elevar os juros para conter a crise externa (superpremiando os bancos que fazem essa intermediação). Não será diferente agora. Na prática, os trens não andam à mesma velocidade, o universo das coisas econômicas e financeiras não se contrai à mesma taxa para todos (como também não se expandiu de forma homogênea para todos os jogadores). No pânico, muita gente pula do trem porque tem certeza de que a composição toda corre para um precipício sem fundo.


[..]Mesmo num momento em que os líderes do sistema capitalista partem para uma estatização sem pudores em todos os quadrantes, os comentaristas, economistas, jornalistas e outros “gênios” da finança ouvidos, publicados e entrevistados continuam os mesmos, ou seja, aqueles que por anos a fio vieram a público fazer a apologia da desregulamentação, da privatização, da liberalização unilateral de mercados. Desconfio que a esquerda, se existir ainda e esteja onde estiver, seria contra a operação de resgate dos ladrões em nome do bem geral da sociedade. O problema é que, historicamente, a esquerda foi a favor das teorias financeiras que defendem a intervenção do Estado. Assim, colocar a máquina do Estado a serviço do capital especulativo durante o ciclo de alta é motivo de críticas, mas o típico esquerdista apoiará uma megaintervenção do Estado para restaurar uma suposta normalidade financeira, apoiando-se na muleta retórica segundo a qual “agora será tudo diferente, tudo será regulamentado, os yuppies serão efetivamente sacrificados e um capitalismo responsável será ordenado pela mão visível do Estado”.

A única diferença entre o heterodoxo de esquerda e o ultraliberal de direita, nesse momento, é o caráter da estatização, definitiva de uma “nova ordem” para o heterodoxo, apenas temporária para o ortodoxo que aceita um interregno intervencionista para salvar o mercado.

Ambos, no entanto, militam no contra-senso e parecem tirar de sua aliança tática uma esperança de sobrevida política e ideológica.


Os desenvolvimentistas criticaram o pensamento único, mas não ofereceram em troca um único pensamento novo. Em sua maioria ocupam hoje altos escalões públicos e privados, no Brasil e no exterior, até mesmo no Fundo Monetário Internacional sem que se tenha até agora sequer esboçado um novo pensamento crítico, propositivo e ao mesmo tempo imaginativo.


terça-feira, abril 21, 2009

De volta

Faz bastante tempo que eu não escrevo nesse blog. Mas a vontade de escrever bateu de novo..
Não vou me desculpar pelo tempo sem atualizar - até porque só eu estou lendo isso mesmo - nem prometer atualizar com uma frequência razoável. Até porque eu já fiz e quebrei essas promessas diversas vezes.
Mas enfim, só um espaço para eu ventilar meus pensamentos que surgirem... Sem pressão, sem frequência ou metas de produtividade ;)


I´m back