quarta-feira, julho 19, 2006

Liberdade


"O homem está fadado à liberdade”.

Eu já citei essa frase de Jean-Paul Sartre várias e várias vezes nas minhas redações no colégio. Acho que cheguei a banalizá-la. Mas esses dias pensei mais no seu significado.

Sartre fala de dois tipos de seres: em-si e para-si. Os seres em-si são quaisquer objetos existentes no mundo e que possuem uma essência definida. Esse teclado que eu estou tocando agora é um ser em-si. Não tem potencialidade ou consciência de si ou do mundo. Ele simplesmente é. O teclado tem uma função de existência. Ele está aqui para que eu consiga escrever o que estou pensando e vocês, pessoas que não têm nada melhor para fazer agora, possam ler.

Já o ser para-si é aquele que faz relações temporais e funcionais entre os seres Em-si e ao fazer isso constrói um sentido para o mundo em que vive. O Para-si não tem uma essência definida. Ele não é resultado de uma idéia pré-existente. É preciso que o Para-si exista, e durante essa existência ele define, a cada momento o que é sua essência. Cada pessoa só tem como essência imutável, aquilo que já viveu. Nada me compele a manter esta essência, que só é conhecida em retrospecto. Podemos afirmar que meu ser passado é um Em-si, possui uma essência conhecida, mas essa essência não é predeterminada. Ela só existe no passado. Por isso se diz no existencialismo que "a existência precede e governa a essência". Por esta mesma razão cada Para-si tem a liberdade de fazer de si o que quiser.

Ou seja, "O homem está fadado à liberdade". Cada um de nós pode fazer escolhas que mudarão nossas vidas. Não podemos culpar o destino, Deus, os outros, Papai Noel ou o Coelhinho da Páscoa pelas cagadas que acontecem com a gente. O que também tem seu lado positivo podemos tomar crédito por tudo aquilo que conquistamos.

Obviamente as pessoas estão sujeitas a limitações. Sartre explica que isso não diminui a liberdade. Pelo contrário, são as limitações que tornam a liberdade possível, pois se pudéssemos realizar instantaneamente qualquer coisa que quiséssemos, nós estaríamos no universo do sonho. No mundo real, são as limitações que me impõem escolhas. Esta é, para Sartre, a verdadeira liberdade da qual nenhum homem pode escapar: "não é a liberdade de realização, mas a liberdade de eleição". O importante não é o que o mundo faz de você, mas o que você faz com aquilo que o mundo fez de você.

Cada escolha carrega consigo uma responsabilidade. E cada escolha ao ser posta em ação provoca mudanças no mundo que não podem ser desfeitas. Não posso, atribuir a responsabilidade por estes atos a nenhuma força externa. Em cada momento, diante de cada escolha que faço, torno-me responsável não só por mim, mas por toda a humanidade. E faço isso por minha própria escolha, para que o mundo se torne mais como eu o projetei. Eis a essência da responsabilidade: eu, por minha vontade e escolha ajo no mundo e afeto o mundo todo. É uma responsabilidade da qual não podemos fugir.

Tudo bem, já falei muito sobre Sartre, mas qual a razão disso estar aqui no meu blog? Simples, sempre tive a sensação de ser uma espectadora na minha própria vida. Assistia ela passar e esperava a hora em que iria começar a agir. Mas chegou a hora de perceber que estou no mundo real, e minha vida é assim porque eu escolhi que ela fosse.

Os existencialistas sofriam muito da angústia. Algo como um medo de usar mal essa liberdade inerente ao homem. E a sensação de responsabilidade por todo o mundo. Acho que ainda não cheguei a esse ponto, estava tão anestesiada pela minha falta de ação, que o fardo da liberdade chega trazendo um certo alívio.

Provavelmente a fase da angústia chegará quando amadurecer mais a idéia da liberdade. Mas por enquanto estou pensando nela como uma criança pensa no novo brinquedo. E aproveitando essa boa fase, estou fazendo mais escolhas do que fiz em bastante tempo (isso sem contar a escolha por não escolher, claro...)



E deixo vocês com algumas frases de Sartre para pensar:

"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”.

"Quando, alguma vez, a liberdade irrompe numa alma humana , os deuses deixam de poder seja o que for contra esse homem"

"Nunca julgamos aqueles a quem amamos." (essa talvez seja um apelo...)



OBS: Partes do texto foram retirados da Wikipédia

sábado, julho 08, 2006

Emily

~She's often inclined to borrow somebody's dreams 'till tomorrow...

sexta-feira, julho 07, 2006

Cotidiano

-Ponho as roupas para lavar;
-Acendo meu insenso de Artemísia;
-Coloco o CD de Raul Seixas para tocar;
-Encho minha poltrona de sapo que começa a murchar;
-Passo hidratante no rosto;
-Sento na minha poltrona de sapo e curtir a música e o insenso enquanto espero a máquina de lavar parar;
-Meus lábios começam a rachar e eu passo protetor labial;
-Ouço essa frase que precisava ouvir: O que eu quero, eu vou conseguir. Pois quando eu quero todos querem, quando eu quero todo mundo pede bis.




Sim, eu estou em casa. Na minha casa. E é legal esse meu cotidiano (ou, como diz Yasmin, essa minha vida de adulto)



~Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã