segunda-feira, maio 15, 2006

Devaneios na altitude parte 1

Ícaro e Dédalo


Escrever
Como poderia voltar a escrever depois de tanto tempo? É como o amante tentar se acomodar no leito da amada após um longo período de abandono.
Abandono.
O que mais terei deixado para trás na minha vida? Portas certamente já estão fechadas. Se bem que algumas se encontram entreabertas.
Voltando à escrita, voltando à terra natal que hoje me parece estrangeira.
Nem mesmo as palavras tocam este papel eu já noto os lugares-comuns. Ou pior, a completa falta de uma idéia. "Copiar os outros é necessário, copiar a si mesmo é patético."
Não lembro de quem é essa frase que li há muito tempo e, desde então, tenho repetido quase como um mantra. Em que categoria estaria então? Copiando uma frase alheia e, ao mesmo tempo, me repetindo no ato de citá-la.
É uma questão de exercício. Depois da primeira enxurrada de palavras, já consigo me concentrar em um único fio contínuo. Como um rio, esse fio tinha também seus efluentes.
Minha mente luta contra a minha tentativa de aprisioná-la a um fluxo com menos área de escoamento.
Rv= A.V p^2+ d. g. h + d . v^2/2= constante
Por que foi tão mais fácil para mim simplesmente reproduzir essas fórmulas de hidrodinâmica do que continuar satisfatoriamente com a metáfora do pensamento com um fluido? Em tempos remotos esses assuntos estariam em compartimentos distintos da minha mente - português, matemática, história, geografia, química, física, biologia, inglês, literatura e redação - sempre nessa exata ordem.
Acho que foi uma conquista "descategorizar" minha mente. Mas pensando bem, o desequilíbrio vem do fato de que algumas categorias invadiram o espaço de outras.
Chegou a hora das categorias relegadas a segundo plano se rebelarem!
Não mencionei, mas estou voando.
Estranho não ter escrito nada até esse ponto. Voar sempre trouxe para mim um encanto infantil - acho que é desse encanto que sinto falta.


Sou interrompida pela aeromoça que me oferece amendoins e refrigerante

Um comentário:

Anônimo disse...

Avise-me quando publicar outro devaneio, certo? Quero ler.
Abraço!